quinta-feira, 27 de novembro de 2008

3 - Eu Por Mim Mesmo (Texto adaptado do original)

Quando eu fiz 15 anos resolvi aprender a tocar violão, acho que queria ser famoso, fazer shows. Essa vontade, claro, passou. Embora tenha aprendido um pouco o dedilhado, minha afinação não me fez mais que ser um tocador de roda de violão. E dos bem modestos. Tempos depois resolvi tentar o caminho das letras. Queria ser escritor.

Logo percebi que dava mais pra tocar violão mesmo. Porém nunca me surgiu uma oportunidade de fazer um show com meu violão, mas sim uma chance de escrever. Falar do Fluminense! Minha paixão mil vezes maior do que o pinho e os books. Topei esse desafio. Meu nome é Marcelo Pitanga. Apesar da minha família não torcer pelo Fluminense, eu assim escolhi. Talvez pela beleza da camisa, talvez pelos títulos que conquistava, talvez pela minha precoce inteligência e bom gosto, modéstia à parte.

Quando fiz 9 anos adorava tanto futebol que sabia de cor as escalações de todos os times. Fui parar na antiga e extinta TV Tupi, no Programa Operação Esporte do saudoso baiano Carlos Lima. Era uma novidade uma criança falando de futebol tão, digamos, intensamente e descaradamente. Minha aparição me rendeu umas linhas no Jornal dos Sports. “Um menino tricolor que sabe tudo de bola”. O Parreira, então preparador físico, me elogiou publicamente. Em tempos de censura, diziam que eu só apareci na TV porque o Juiz de Menores era Fluminense doente. Assim como eu, que àquela altura já acompanhava os jogos do time como dava. Para desespero do meu pai, todo jogo que tinha no Maracanã eu pedia para ele me levar. Alguns eu ia, outros eu ficava chorando em casa. Doido para crescer rápido. Nos jogos à noite, então, escondia o rádio de pilha por debaixo do travesseiro. Dormia quase sempre na metade do segundo tempo, e ia saber o resultado no jornal do dia seguinte.

Vi os gols do ídolo e hoje amigo Manfrini. Vivi a “bela época” da Máquina de Rivelino e cia. Algum tempo depois do Horta, voltei à TV Tupi, convidado para um jogo de perguntas: fui responder pelo Fluminense. O então Presidente Sylvio Kelly foi ao programa e me deu de presente uma camisa oficial do Edinho. Tenho-a até hoje guardada.

Quando comecei a não depender do meu pai me levar ao Maracanã, passei a não perder mais jogo; domingo, quarta, domingo, quarta, quantas vezes as tabelas dos campeonatos mandassem. Por morar em Niterói entrei logo na Torcida Flunitor e depois fui parar na Young Flu, época do Seu Armando. Era um dos três únicos integrantes da torcida que morava do outro lado da Baia de Guanabara. Em pouco tempo fui levando o pessoal de Nikity para a Young. Em 1981 fundamos a Young Niterói, sem dúvida a primeira “filial” de uma torcida. A novidade só fez crescer a Young Flu, ao longo dos anos 80. Vivi a era do Casal 20 de Assis e Washington. Em 1984, envolvido numa confusão com a torcida do Corinthians na semi final daquele Brasileiro, levei um tiro na mão direita, uma lembrança doce e amarga daquele nosso título.

Esse fato fez com que minha mãe achasse que eu iria mudar de vida. Que nada! Continuei freqüentando o Maracanã, as Laranjeiras, o Morumbi, o Mineirão e tantos outros Estádios atrás do Fluminense. Também ginásios, acompanhando nossos esportes amadores. Fui de carona pra Teresópolis para ver um jogo de vôlei feminino numa quarta feira à noite. Voltei pra casa no dia seguinte, com o ônibus do clube.

Vi os gols de Assis contra Raul e Fillol. Vi o gol de barriga do Renato. Depois desses jogos eu também voltei pra casa no dia seguinte. Vivi e sobrevivi aos anos amargos dos rebaixamentos. Não abandonei o Fluminense quando ele mais pareceu não gostar de mim. Tal como num casamento, “na alegria e na tristeza, na saúde e na doença”. Não faltei aos jogos contra ABC, Joinville, CRB, Goiânia e Dom Pedro da vida, mas com orgulho faltei à esdrúxula e escrota comemoração do champgne.

Com o inicio do mundo virtual “dáblio dáblio dáblio” fui intimado pelo Mauro Sorage a fazer parte da Sabedoria Tricolor. Sorage, que me conhecia, assim como a maioria, sem exagero, dos tricolores niteroienses hoje na faixa dos 40 anos. Com a Sabedoria passei a conhecer mais e mais tricolores, a reencontrar alguns velhos amigos, e a freqüentar o clube com mais assiduidade. Entrei de sócio em 2003, e logo passei a fazer parte de outro grupo virtual: a Flusócio.

No fim de 2006, amargurado com nossa torcida, frequentei o início da Legião Tricolor. E vi a Revolução que foi nas arquibancadas tricolores. Nem cabem aqui os elogios. Veio o título da Copa do Brasil em 2007, e a histórica participação na Libertadores nesse ano. Comecei a escrever um livro contando tudo isso e muito mais... ainda não terminei. Não quero esquecer de nada. E tenho a preocupação de não me achar mais tricolor que nenhum de vocês. Pois na verdade não sou.



Saudações Tricolores sempre

Pitanga





desenho que eu fiz do jogador Cleber, anos 70

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