quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

12 - Carta do Renê Simões



"Prezado torcedor tricolor, Ao longo da minha carreira de mais de 35 anos no futebol, criei o hábito de escrever cartas aos torcedores. Acredito que a torcida é parte fundamental da máquina que movimenta um time e precisa ser tratada com devido respeito e informação. Venho freando meu desejo de escrever a você desde a minha chegada. Hoje, com o dever cumprido de mantermos o Fluminense na Série A e ainda com a conquista da vaga para a Copa Sul-Americana, acredito que enfim chegou o momento. O futebol nos proporciona oportunidades de observar grandes fenômenos sociais. Ele influencia inclusive nos nossos relacionamentos, uma vez que associamos nossas alegrias e tristezas pessoais aos resultados do nosso time. Aprendemos ali o valor de derrotas, vitórias, imprevistos e imponderáveis. Trata-se de um processo de ensino espetacular na vida de um ser humano. Durante a conquista do vice-campeonato da Libertadores, a torcida tricolor deu uma amostra de grandeza e civilidade ao aplaudir o time no final do jogo. Ali estava a morte de um sonho, mas a reflexão e o bom senso demonstraram que, apesar da perda do título, o time havia feito o inédito para e pelo clube. Houve lágrimas de velhos e jovens, pais e filhos, homens e mulheres, mas também solidariedade, camaradagem e entendimento. Houve ainda muita dor e questionamento, mas sem que a esperança fosse aniquilada. Thomas Edison disse: "Todo vencedor é um perdedor experimentado". Nossas derrotas devem ser analisadas e criticadas, sempre, mas com bom senso e realismo. Hoje, vemos jogadores que há pouco tempo eram perseguidos saírem de campo sob aplausos. Acho um direito legítimo de cada membro da torcida gostar ou não de um jogador, mas seu papel preponderante durante o jogo deve ser sempre o mesmo - o de incentivar. Naqueles 90 minutos, o objetivo comum tem que ser a vitória. Vaias e desaprovação devem ser demonstradas sempre após as partidas e com a educação e prudência de uma torcida centenária e diferenciada como a tricolor. Sei que essa carta pode ser mal-interpretada, assim como outras histórias que levei aos jogadores, mas não me importo e também não mudarei de atitude. Poucos aceitam que um treinador possa ver sua profissão além do universo campo-bola. Mas, como treinador de pessoas, me sinto impulsionado para falar e passar minhas experiências na intenção de que o mundo seja um lugar melhor. Se não conseguir, não terei o remorso de não ter tentado por covardia. Olharei para as futuras gerações e lamentarei, mas não me punirei por não ter tentado. Quem conhece minha carreira, sabe que eu gosto de desafios - de "tentar". Ao aceitar dirigir o Fluminense, tive a convicção que podíamos sair do momento que o time vivia. Trouxe comigo uma comissão técnica de profissionais da melhor qualidade, com conhecimento, experiência e confiança inabalável. Encontrei no clube uma Coordenação do Futebol ativa e comprometida, uma diretoria sempre atenta, um patrocinador envolvido e apaixonado pelo Fluminense, uma equipe de apoio excelente e uma comissão técnica muito honesta. Além disso, contei com jogadores que, apesar de abalados por tudo o que enfrentaram, tinham qualidade e determinação suficientes para competir com os grandes times deste país".
Renê Simões, carta publicada na mídia esportiva



Conheci pessoalmente o Renê em 2004, justo no dia em que meu filho veio ao mundo. Grande e inesquecível coincidência. Fiquei impressionado com a sua palestra naquele 08 de novembro, e mais ainda depois, quando ele foi na minha sala falar comigo, ser apresentado por um amigo em comum, que sabia do meu gosto por futebol. Cheguei a brincar falando que um dia ele ainda ia treinar o "meu Fluminense". Nunca me esqueci disso.

Quatro anos depois minha "previsão chutada" aconteceu. E pelo pouco que pude ver do Renê, essa carta tem a cara dele, com doses de uma incrível capacidade de lidar com desafios e sempre com uma baita capacidade. Abraços e parabéns por tudo Renê.

Marcelo Pitanga

Saudações Tricolores Sempre

Um comentário:

Rafael Marcelino disse...

Grande René e pelas palavras,
Sou Botafoguense e digo que a titude dele foi de arrepiar enquanto muitos vão embora falando mal do clube e da estrutura e dos dirigentes,grande caráter!
Tirou o time de um rebaixamento quase certo pois tava complicado quando ele chegou,esse início de temporada foi abaixo do esperado...
Um dia espero que ele treine o Botafogo tbm...